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  • Foto do escritorAlan Cohen

Por que há tanto segredo e silêncio?




Em nosso Instagram, @covendorio, costumamos receber muitas mensagens de buscadores que desejam saber mais sobre a Tradição Alexandrina ou sobre o Coven do Rio em particular. Entre todas as perguntas que nos fazem, as mais frequentes são: "Por que existe tanto segredo envolvendo a Tradição?" ou "Por que não fazem reuniões públicas para que possamos participar e conhecê-los?".


Também recebemos muitas perguntas sobre como saber quem são os membros do Coven para conversar e verificar se nos identificamos, ou por que não falamos mais abertamente sobre o que fazemos e como fazemos.


Todas essas perguntas têm em comum a atmosfera de segredo que os iniciados costumam manter sobre as coisas da Craft ou de seus Covens; e o motivo pelo qual mantemos esse silêncio é simples: nós juramos fazer isso.


É isso. Sem clickbait, sem enrolação. Nós juramos, em nossos rituais de iniciação, que guardaríamos segredo e protegeríamos o conhecimento; e, sendo o juramento mágico algo que levamos muito a sério – como qualquer praticante de magia em pleno exercício de suas faculdades normalmente leva – nós guardamos exclusivamente para entre iniciados aquilo que fazemos, como fazemos e por que fazemos.


Mas, é óbvio, não poderia ser só isso.


No dia da minha iniciação, mesmo dia em que fiz esse juramento, eu achava que ele – o segredo – se resumia a basicamente isso: proteger o conhecimento, as pessoas e a Craft. Proteger – eu pensava – de ameaças externas, como se houvesse algo à espreita ansioso por pôr as mãos Nela. Eu devia ter prestado melhor atenção na carta que recebi do Coven informando que fui aceito como membro, onde dizia: "A princípio, a necessidade de sigilo em nosso ofício pode parecer confuso, ou até mesmo frustrante, para os alunos – com o tempo esperamos que você entenda, e até mesmo aprecie, o fato de ter conduzido o seu aprendizado dessa maneira".


Aqui preciso fazer uma observação: embora haja algum consenso sobre o que é discutido e o que não é, cada Coven é liderado por uma Alta Sacerdotisa ou um Alto Sacerdote, ou um casal desses, iniciados que têm conhecimento, liberdade e poder para ajustar os limites de seus protocolos, filosofias e práticas, desde que isso não represente descaracterização da tradição ou quebra clara de votos mágicos. Portanto, a proporção do que é divulgado e até onde é divulgado costuma variar de Coven para Coven. As ideias neste texto representam a forma de ser do Coven do Rio e estão alinhadas à nossa visão sobre a função e as possibilidades do silêncio, e como isso impacta buscadores e iniciados. Essas ideias não representam a postura de todos os Covens Alexandrinos, e não há nenhum julgamento de valor sobre elas serem melhores ou piores em relação aos demais. Elas são apenas as melhores para nós.


Agora voltemos ao tema:


Nós, do Coven do Rio, não divulgamos quem são seus membros – vocês dificilmente verão imagens de iniciados associadas ao nosso site ou redes sociais; não divulgamos fotos de nossos altares, de nosso templo ou de objetos ritualísticos; não falamos sobre nossos rituais, como e por que eles são realizados; não dizemos onde fica o Covenstead – nome que a Tradição dá ao local onde o Coven se reúne para seus rituais –, exceto o fato de ser na cidade do Rio de Janeiro. O que o Coven do Rio considera válido expor é basicamente o que já consta em nosso site e Instagram.


Veja, eu sei o quanto isso pode ser assustador. Como pedir iniciação, como dar esse passo, sem ter a chance de obter informações que, a princípio, parecem tão básicas, mas que trazem alguma segurança para essa decisão? Eu também já fui um buscador e postulante, então sei o quão assustador é.


Ainda hoje lembro com detalhes do dia da minha iniciação de 1º grau: era um sábado, acordei cedo, já muito ansioso e aflito. Até aquele momento, eu só conhecia dois membros do Coven: Shirley, a Alta Sacerdotisa que havia feito minha entrevista de ingresso, e um Sacerdote que me acompanhou no pré-iniciático. Além disso, eu não sabia quem eram os outros membros do Coven, quantas pessoas estariam presentes, como a cerimônia aconteceria e nem mesmo o endereço do local, que recebi no fim da tarde em uma mensagem dizendo: "Esteja no endereço ___ daqui a duas horas para a cerimônia de iniciação".


Lá, houve um momento onde a minha iniciadora me disse mais ou menos o seguinte:


"Você, que está na fronteira entre os mundos, tem coragem de atravessar? Pois me ouça: é melhor avançar sobre minha lâmina e perecer do que tentar atravessar com medo no coração".


Sim!, eu disse, e foi o mais sincero e poderoso que poderia ter dito, pois sentia que já havia atravessado; o salto de fé já havia sido dado. As palavras da Sacerdotisa foram mais do que meras palavras para mim: elas acionaram um sentimento verdadeiro e se conectaram com algo que não era de forma alguma fantasioso, mas muito real e sólido!


Naquele dia, após ter sido iniciado e antes de dormir, quando coloquei a cabeça no travesseiro, a primeira coisa que me veio à mente foi que, mesmo sem conhecer ninguém ou saber exatamente o que aconteceria, eu recebi uma mensagem duas horas antes do ritual começar, peguei minhas coisas e me dirigi ao desconhecido. Com a cabeça no travesseiro ficou claro que, desde o início, a iniciação já estava em curso.


Se não fosse pelo silêncio, pelo sigilo, pelo sentimento de abandono, as palavras da Sacerdotisa teriam sido menos impactantes e profundas para mim. Não estou dizendo que eu não teria tido experiências incríveis ou contemplações profundas, mas acredito que teria levado muito mais tempo para alcançá-las. Na Craft, há uma conexão entre todas as coisas, e nada, absolutamente nada, é arbitrário; tudo tem uma razão. E à medida que a prática e a vivência foram revelando seus mistérios para mim, realmente passei a apreciar ter conduzido meus estudos dessa maneira e, mais do que isso, a apreciar que as pessoas responsáveis por me guiar tenham feito isso da maneira que fizeram, da maneira como é feito. Dá medo? Sim, medo e muito mais do que isso, mas o que eu faço com esse medo é o que determina o desfecho da situação.


Um dia desses respondi para uma aluna e Sacerdotisa que, dentre muitos, o caminho iniciático é um de autoconhecimento e autodomínio. Não nos submetemos ao que nos submetemos para ter uma insígnia de Iniciados. Qual o valor que isso tem? Um Coven sério irá, em todos os momentos – em todos –, colocar os iniciados em situações onde eles terão que encarar a si mesmos e exercer sua Vontade com plenitude. Ora, muitas pessoas buscam a Wicca, a magia e a bruxaria porque desejam moldar o universo exterior a elas conforme sua vontade. No entanto, é importante compreender: se eu não sou capaz de dominar o universo interior, como espero dominar o que me é exterior? Se eu não consigo confrontar meus medos, encarar minha sombra, pôr uma coleira em meu ego (mata-lo jamais), de trabalhar minhas frustrações, de investigar as raízes dos meus traumas, de controlar (ou extinguir) meus vícios e continuo sendo um joguete de forças que me empurram pra lá e pra cá conforme bem entendem, que ilusão é essa que me faz acreditar que eu tenho controle sobre o que está para fora? Alguma peça está faltando.


Novamente: nada na Craft é arbitrário; tudo tem um porquê. O silêncio e o sigilo que mantemos sobre nós, nossos rituais, nossos membros e nossos templos não são apenas para que nos sintamos especiais, detentores de algo que “eu sei e você não sabe”. Há um porquê por trás de tudo, tão prático quanto é filosófico, porque da mesma forma que existe aplicabilidade real em se falar pouco, há também o fato de que, para nós, tudo isso é sagrado e coisas sagradas devem ser reservadas. Absolutamente reservadas.


E se for do seu caminho atravessar para o lado de cá e se tornar a Hidden Children of the Goddess, temos a confiança de que você também irá, no tempo devido, apreciar o fato de ter sido dessa maneira.


Alan Cohen

Alto Sacerdote do Coven do Rio

Instagram: @anehoc_ 

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